sábado, 23 de junho de 2012


Rio+20 chega ao fim com avanço de
ideias e fracasso de resultados práticos

Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável terminou na noite de sexta-feira
André Paino, do R7 | 23/06/2012 às 05h46
Agência Brasil
Encerramento
Presidenta Dilma e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante cerimônia de encerramento da Rio+20
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O documento final O Futuro que Queremosconcluído na Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável que terminou nesta sexta-feira (22), causou descontentamento tanto à sociedade civil quanto a representantes de governo. O R7ouviu especialistas na área de meio ambiente sobre o texto apresentado ontem e eles concordam em um ponto: a Rio+20 apresentou uma nova agenda, sem se aprofundar em temas urgentes, como oceanos, financiamento de políticas sustentáveis e direitos das mulheres, tampouco definir modos e metas para implementação de propostas.

De acordo com Yolanda Kakabase, presidente do conselho do WWF Internacional, o resultado final deixou dúvidas sobre como as nações irão adotar as medidas incluídas no documento. Para ela, faltou mais ousadia em conferência que serviu somente para confraternização entre líderes mundiais.
Veja os melhores momentos da Rio+20 em imagens

— Os países vieram aqui, os chefes apertaram as mãos, mas ninguém fez nada para melhorar o documento. Se eles quisessem fazer a diferença, poderiam ter dito: não aceitamos o documento, e teriam proposto mudanças.

Para o coordenador do programa de mudanças climáticas e energia da ONG WWF, Carlos Rittl, a Rio+20 foi uma “oportunidade mal aproveitada” e serão necessários anos de conversas e diálogos entre os países para que os problemas que envolvem o desenvolvimento sustentável sejam definitivamente resolvidos.

— Ao invés de trazer decisões concretas, a Rio+20 colocou em nossa frente uma nova agenda de negociações. E agenda de negociações a gente nunca sabe quando começa, muito menos onde vai chegar.

A presidente Dilma Rousseff, no entanto, comemorou a Rio+20 durante o discurso de encerramento da cúpula na noite de sexta. Para ela, o documento final da conferência é "um ponto de partida".

- Agora, o que nós temos de exigir é que, a partir desse documento, as nações avancem. O que não podemos conceber é que alguém fique aquém dessa decisão.

Financiamento: maior decepção
O texto não trata de forma concreta a questão do financiamento para o desenvolvimento sustentável. De acordo com Rittl, trata-se de medidas urgentes, mas que não foram bem definidas no documento.

— Esperávamos resultados mais concretos. Sequer foram definidos os termos que serão trabalhados. Saímos da Rio+20 sem nada. Não sabemos o quanto vai custar, o que é necessário investir, quais deveriam ser os compromissos dos países ricos para colocar dinheiro na mesa e quais mecanismos vão contribuir para pagar a conta do desenvolvimento sustentável.

Para Dilma, um próximo passo deve envolver o financiamento de medidas para o desenvolvimento sustentável.

As nações ricas, por sua vez, atribuíram à crise econômica a impossibilidade de se comprometerem com recursos para o meio ambiente, e um fundo proposto de US$ 30 bilhões para ajudar países em desenvolvimento a implantar medidas de proteção ao meio ambiente foi descartado.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, lamentou que temas como preservação dos oceanos, “embora aprovado no tratado”, e direitos reprodutivos das mulheres, “em que o Brasil já avançou tremendamente”, não tenham evoluído na Rio+20. Essa última questão também decepcionou o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, que afirmou estar pessoalmente frustrado sobre os direitos reprodutivos da mulher.

— Eu, particularmente, me sinto frustrado em relação à questão dos direitos reprodutivos da mulher. Este não é um tema que será resolvido nesta conferência.

Cúpula dos chefes x Cúpula dos Povos
Embora a Rio+20 tenha decepcionado, a conferência atraiu milhares de representantes de movimentos sociais, empresariais e ONGs. Para Rittl, a participação da Cúpula dos Povos, evento que ocorreu paralelamente a Rio+20, foi positiva.

Segundo o coordenador, ONGs e empresas mostraram caminhos para propor soluções para o desenvolvimento sustentável. Porém, ele advertiu que essas decisões precisam estar associadas a compromissos políticos.

Conforme anunciou o secretário-geral da ONU para a Rio+20, Sha Zukang, foram firmados 692 compromissos entre essas entidades, com investimento de aproximadamente R$ 1,3 trilhões em energia limpa, emprego e erradicação da pobreza.

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