segunda-feira, 4 de junho de 2012


JOVENS, PODEROSOS E RICOS

Conheça a trajetória, os negócios, o estilo de vida e os brinquedos de uma nova geração de empreendedores que está fazendo fortuna no Brasil

Por Darcio Oliveira e Carlos Sambrana
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João Paulo Diniz: lucra com restaurantes, hotéis, bebidas e coleciona relógios de US$ 30 mil

Os vizinhos no Central Park, em Nova York, devem ficar com a pulga atrás da orelha. Quem será o jovem que chega sempre no sábado de manhã, de limusine, fica apenas dois dias e parte? É Marcos de Moraes, filho do ex-rei da soja Olacy. Há dois anos Marquinhos fez o maior negócio da internet brasileira: vendeu o seu portal Zip.Net para a Portugal Telecom por magníficos US$ 360 milhões. Desde então, leva uma vida de sonhos. Comprou um apartamento com vista para o Central Park, de US$ 2 milhões, onde costuma passar os finais de semana. Foi sua mais recente aquisição. Pouco antes, havia desembolsado outros US$ 4 milhões numa mansão de 1,5 mil metros quadrados de área construída no bairro do Morumbi, em São Paulo. Além disso, arrematou um jatinho Falcon, com valor estimado em US$ 20 milhões, para fazer sua ponte aérea particular entre São Paulo e Nova York.
Marquinhos é o símbolo maior de uma geração de jovens empreendedores que tomou conta da cena empresarial brasileira nos últimos cinco anos. Do time dele fazem parte nomes como Alexandre Accioly, João Paulo Diniz, Henrique Alves Pinto, Luís Calainho, Luciano Huck, Natalie Klein, Gil Farah, Carlinhos Jereissatti e Ricardo Almeida. Cada um a seu modo, eles fizeram fortuna rapidamente. Alguns partiram do nada e hoje são donos de dezenas de empresas. Outros, herdeiros de grande grupos, preferiram trilhar caminho diferente dos pais. Há ainda os que assumiram as rédeas da empresa familiar, imprimiram seu estilo e multiplicaram por dez o lucro do negócio. Em comum, eles têm uma incrível capacidade de caçar boas oportunidades, uma invejável necessidade de expansão, um jeito próprio de fazer negócios. Mas não imagine que neste time surgirá um titã do porte de Antônio Ermírio ou Abílio Diniz. Eles jogam diferente. Inquietos, não se apegam a logotipos, tradições e companhias. Se for preciso vender uma empresa hoje para comprar outra amanhã, fazem sem o menor ressentimento.

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Luciano Huck: É o pioneiro da turma. Em 1991, abriu um bar e não parou mais de investir na noite

Carrões e helicópteros. Alexandre Accioly, 39 anos, que o diga. Filho de pai bancário e mãe dona de casa, nunca freqüentou escolas particulares e parou de estudar após o segundo grau. Desde então perseguiu o sonho de se tornar empreendedor. Depois de algumas experiências mal-sucedidas, deu o pulo do gato: montou a maior empresa de telemarketing do País para vendê-la anos depois à Telefônica por US$ 140 milhões. Do total, US$ 80 milhões foram parar no seu bolso. Daí em diante, especializou-se em comprar empresas. Tem uma dúzia delas, de bares a companhias imobiliárias, passando pelo setor de entretenimento e lazer. Accioly é hoje um sujeito de bem com a vida. Não esconde de ninguém o prazer de, agora, poder desfrutar do bom e do melhor. Mora num apartamento de 730 metros quadrados de frente para o mar de Ipanema, com direito a sauna e uma piscina dotada de fibra óptica (a iluminação muda de cor, de acordo com a vontade do dono) dentro da sala. Também tem uma propriedade de 14 mil metros quadrados em Angra dos Reis, ponto de maior PIB per capita do litoral fluminense, um helicóptero de oito lugares avaliado em US$ 3,5 milhões e um iate de 55 pés. Anda a bordo de um BMW ou de um Cherokee blindados, tem uma coleção de 60 relógios (Rolex, Breitlings, Bulgaris) e é capaz de gastar R$ 17 mil em roupas numa sessão de compras em Nova York. Em seu aniversário, em julho, torrou R$ 1 milhão numa única noite, reunindo 1.000 convidados na Ilha Fiscal, no Rio. “Passei 38 anos correndo atrás e há dois estou curtindo a vida”, diz Accioly.
Sócio de Accioly em alguns empreendimentos, o empresário João Paulo Diniz, 38 anos, herdeiro do grupo Pão de Açúcar, também não mede esforços para mostrar seu poder de fogo. Recentemente, a suíça Roger DuBois, uma das maiores grifes de relógios do mundo, lançou uma exclusivíssima coleção, a Hommage, toda feita a mão. Produziu apenas 28 peças. Duas vieram para a América, sendo uma para os Estados Unidos e a outra para o Brasil. Preço da jóia:
US$ 30 mil. Diniz não deixou a oportunidade passar e arrematou a preciosidade. O herdeiro do Pão de Açúcar, assim como Accioly, é um colecionador voraz de relógios. Tem dezenas deles. Certa vez, disse a um funcionário de um de seus restaurantes: “Se você conseguir aumentar o movimento da casa eu te dou de presente o relógio que estiver usando no dia”. O feliz empregado levou para casa um Bulgari. E Diniz ampliou o faturamento da casa.

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Natalie Klein: Fatura R$ 10 milhões com a sua grife NK Store e vai aos EUA comprar seu enxoval

Teia de sócios. Hoje, o filho de Abílio é dono de uma dúzia de restaurantes (em sociedade com o apresentador Luciano Huck e o restaurateur Rogério Fasano), de grifes de moda (em parceria com o estilista Marcelo Somer) e de uma empresa que fabrica sodas alcoólicas e bebidas energéticas, a Flying Ice (em sociedade com os empresários Edsá Sampaio e Gil Farah). “Dedico 80% do meu tempo a esses empreendimentos”, revela o empresário. Os outros 20%, o herdeiro do Pão de Açúcar gasta nas pistas de bicicleta, nas academias de ginástica e, claro, nas festas mais cobiçadas da sociedade paulistana. Sempre em companhia da confraria dos jovens poderosos: Accioly, Luis Calainho, Luciano Huck, Gil Farah.

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Alexandre Accioly: Saiu do nada e montou 11 empresas. Sua casa tem piscina com fibra óptica

Esta, aliás, é uma turma unida na diversão e nos negócios. Accioly é sócio de Diniz, que é sócio de Farah, que é sócio de Huck, que é sócio de Calainho, que é sócio de Accioly. Os interesses desses empreendedores convergem para segmentos em que atuam, com a mesma desenvoltura, como consumidores de alto cacife: lazer, comunicação e entretenimento. “São pessoas que conheço, pessoal e profissionalmente, há no mínimo cinco anos”, diz Luís André Calainho, 33 anos. “Isto facilita.” A maior aposta de Calainho é a Dial Brasil, empresa que controla a filial carioca da Jovem Pan e a Paradiso FM. “Vamos ter a maior rede de rádio do País”, afirma ele. Outro empreendimento que enche os olhos do empresário é o portal Vírgula, destinado a jovens. “É uma das poucas do setor que já dá lucro”, garante. De todos os membros da confraria, Calainho talvez seja o mais discreto. Tem um duplex no bairro de Moema, em São Paulo, e uma picape Dakota. Não é de ostentar. Ainda assim, é figura carimbada nas colunas sociais, principalmente em virtude de suas conquistas amorosas.

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Leonardo Senna: Seis jet skis e habilidade no comando de uma nova empresa de tecnologia
 
Diferentemente de Calainho, o dublê de empresário e apresentador Luciano Huck já freqüenta o grand monde há algum tempo – pode ser considerado o pioneiro desta safra de jovens poderosos. Em 1991, abriu um bar em São Paulo, o Cabral, e inaugurou o modelo rapaz rico-empresário da noite. Atualmente, aos 31 anos, é dono de um patrimônio estimado em US$ 6 milhões, que inclui, entre outros ativos, duas boates, restaurantes e uma incorporadora 
de imóveis, responsável, por exemplo, pela construção de
um dos primeiros edifícios com lofts de altíssimo padrão em São Paulo. No empreendimento, é também parceiro de Gil Farah, outro integrante da confraria.

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Ricardo Almeida: O estilista de Lula, tem uma boate no porão
 
Fora do clube dos sócios-em-tudo há empresários mais discretos, igualmente jovens, que também movimentam milhões em negócios. Carlos Jereissatti Filho, o Carlinhos, de 31 anos, herdeiro e principal executivo da rede Iguatemi, comanda um grupo que fatura mais de R$ 400 milhões. É tão discreto que muitas vezes é confundido com um funcionário do shopping. Costuma passar os finais de semana na casa de campo do pai no Helvetia, condomínio chique na região de Indaiatuba (SP). De vez em quando foge do esquema familiar e parte para grandes viagens no melhor estilo aventura. África é parada obrigatória. Também se revela um bom jogador de golfe. Do time do discreto Jereissatti faz parte o comandante Constantino Júnior, de 34 anos, dono da Gol Linhas Aéreas, a única companhia lucrativa do setor. Ex-piloto de Fórmula Três, uma de sua maiores diversões é ir pelo menos uma vez por mês a Brasília correr de kart com os amigos. E brincar no simulador de vôo que treina os pilotos da companhia. “Gosto de pilotar virtualmente em vôos com alto grau de dificuldade”, diz. É, sem dúvida, um videogame de luxo, avaliado em US$ 15 milhões.

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Henrique Alves: recebeu Whalfa bin Laden e Naomi Campbell em sua ilha
 
Para Leonardo Senna, o irmão caçula do ex-campeão de Fórmula 1 Ayrton Senna, o brinquedo do momento é um jet boat, espécie de minilancha com turbina que voa sobre a água. Sócio da Audi Senna, empresa que representa a montadora Audi no Brasil, e dono de uma empresa de tecnologia, Leonardo carrega no sangue o entusiasmo com a velocidade, em terra e no mar. “Adoro jet ski. Tenho seis deles”, conta o empresário, de 37 anos. Já o estilista Ricardo Almeida, cujos ternos vestem a elite política e empresarial brasileira, a começar pelo presidente Lula, sempre foi adepto de noitadas. Por isso, transformou o porão de sua casa, em São Paulo, em um clube noturno particular, com pista de dança com luzes e som profissionais, home teather e bar. “Em vez de sair, faço a balada aqui mesmo”, conta.

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Marcos de Moraes: Fortuna na internet e apartamento de US$ 2 milhões no Central Park
 
A novíssima safra. No início da década de 90, o garoto Henrique Alves Pinto, 16 anos, chamou o pai para uma conversa. Queria abrir o próprio negócio: uma empresa de factoring. Precisava do capital inicial. Ouviu do “velho” a seguinte proposta: “Posso emprestar. Se o negócio der certo eu viro sócio. Se não, você me paga com juros. É assim que as coisas funcionam”. E lá se foi o garoto experimentar na prática o significado de investimento de risco. A empresa de factoring deu certo, o pai virou sócio e descobriu no caçula da família um talento administrativo que anos mais tarde o levaria à presidência do principal negócio do clã. Hoje, aos 28 anos, Henrique é o comandante da construtora Tenda, a terceira maior do País. Em cinco anos, multiplicou o faturamento do grupo por cinco, atingindo R$ 170 milhões. E abriu novos flancos: uma empresa de bebidas energéticas, escolas de inglês, financeiras. Na semana passada, estreou em novo segmento, agora no ramo de estacionamentos, em parceria com a empresa Garage Inn. “Eu não consigo ficar parado”, admite Henrique.

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Carlinhos Jereissatti: comanda o Iguatemi e se diverte viajando para a África e jogando golfe
 
Quando não está faturando nas várias frentes de negócios, o empresário comanda festas suntuosas em sua ilha particular localizada em Angra dos Reis. É lá, na casa de 12 suítes, que ele recebe os convivas. No Réveillon de 2002, por exemplo, armou um evento para 400 convidados do mundo todo. Estiveram lá o piloto David Coulthard, a modelo Naomi Campbell e a sobrinha de Osama bin Laden, Whalfa bin Laden. “Alguém viu alguma coisa nas revistas de celebridades ou na televisão? Não, porque faço as coisas para me divertir e não para aparecer nas colunas sociais”, diz Henrique.

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Luís Calainho: É sócio de Huck e Accioly e quer erguer um império de comunicação
 
José Eduardo Matarazzo Kalil, 35 anos, também prefere a vida longe das câmeras. Filho de Maria Pia e neto do conde Francisco Matarazzo, ele é o dono da Unisoap, empresa de higiene e limpeza. Raramente se vê o Zé no circuito de badalação do eixo Rio–São Paulo. Quem quiser encontrá-lo é melhor procurar os campos de pólo eqüestre. Ele é o presidente da Federação Paulista de Pólo. “O esporte e o trabalho ocupam todo o meu tempo. Sou mais sossegado”, diz. Carrões, barcos, helicópteros? “Não, prefiro um bom cavalo”, afirma o jogador.

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José E. Matarazzo: Resgatou o nome da família com a Unisoap. Também é craque no pólo
  
A bela Natalie Klein também é fanática por puros-sangues. Nos finais de semana, a dona da grife NK Store larga a sofisticada loja no bairro dos Jardins, em São Paulo, e se manda com o namorado para a fazenda em Sorocaba. “Quando não estou na fazenda, estou na minha casa em Angra. Também adoro esquiar”. Natalie tinha dois caminhos a seguir: ficar em casa gastando o dinheiro da família Klein ou assumir algum cargo na diretoria das Casas Bahia. Preferiu seguir um caminho diferente. Tinha apenas 20 anos quando resolveu montar a butique NK Store. O pai Michel Klein bancou a construção da loja e o primeiro estoque. Gastou US$ 1 milhão. Hoje, a NK Store fatura ao ano R$ 10 milhões e acaba de gerar um novo filhote: a grife “Talie”. A marca já responde por 30% das receitas.

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Constantino Jr.: Dono da Gol, alivia a tensão brincando num simulador de vôo de US$ 15 milhões
  
“Herdei do meu pai e do meu avô (Samuel Klein) a teimosia, a centralização e os guarda-costas.” Ela é avessa a badalações. Mas diz que vai em festas porque faz bem para os negócios. Extravagância mesmo só com jóias. Comprou um brinco de brilhantes que daria para trocar de carro. Outra mania é de sempre renovar o guarda-roupa do namorado em viagens internacionais. Agora, às vésperas do casamento, ela aproveita as esticadas a Milão e Nova York para montar o enxoval. “É mais barato”, garante. De vez em quando, o avô Samuel surpreende a neta com visitas inesperadas à NK. Foi em um desses encontros que ele fez o que Natalie considera um dos maiores elogios à sua carreira: “Menina, um dia você ainda vai comprar a Casas Bahia”. 

Com reportagens de Christian Carvalho Cruz,
Fabiana Parajara e Fabrícia Peixoto.


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