quarta-feira, 13 de junho de 2012


Ricos brasileiros: quem são eles

Estudo traça o primeiro perfil dos que vivem no topo da pirâmide de renda

Por Por IVAN MARTINS
Na ponta do lápis, eles são pouco mais ou pouco menos de 2 milhões de pessoas. Constituem 1% dos cerca de 187 milhões de brasileiros. Em geral são homens, brancos, têm diploma universitário e moram no Sudeste, preferencialmente na cidade de São Paulo. São os ricos, aquele grupo invejado de pessoas que, no Brasil, campeão da desigualdade, exibe um traço peculiar – são ricos sem o ser, são ricos porque estão cercados por um mar de pobres. “Quem tem dois filhos e renda familiar acima de R$ 14 mil por mês é rico”, define, quase constrangido, o economista Marcelo Medeiros, do Ipea, autor de uma tese premiada que pesquisou o rico brasileiro, esse desconhecido. “As pessoas resistem, mas quem faz parte de 1% da elite econômica é rico, ao menos comparativamente”, diz Medeiros. Logo, há os ricos de fato (que Medeiros chama de “muito ricos”) e os ricos de circunstância, que em países desenvolvidos seriam classe média. De qualquer forma, esse grupo privilegiado, por pequeno, foi deixado de lado pela academia, que se preocupa, compreensivelmente, em estudar os pobres. O professor Medeiros argumenta que isso está errado. Se a sociedade quiser produzir mais ricos, ou se quiser transferir renda para os pobres, precisa saber quem são os que ganham mais. Sobretudo, tem de entender o que faz deles pessoas aquinhoadas em um país destituído. “Temos de entender como se produz a riqueza para não praticar políticas sociais injustas”, diz o acadêmico.
O que Medeiros conseguiu fazer foi esboçar um primeiro perfil do rico brasileiro. Confirmou, de cara, a concentração geográfica. Metade deles vivem em quatro cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte. A maioria absoluta tem diploma. Outro dado indica que as famílias ricas são um pouco menores – mas não muito – que as famílias pobres. Mas há surpresas. Uma delas é que os ricos, segundo Medeiros, não trabalham mais que os pobres. “Eles teriam que trabalhar muito mais para justificar tamanha diferença de renda”, diz ele. Outra surpresa é a função perversa do Estado. O maior item do orçamento federal é o pagamento de juros, que consome por ano R$ 148 bilhões – dinheiro apropriado pelos ricos. A Previdência também paga o grosso dos benefícios aos ricos, que ficam com 60% das pensões. Isso indica que o Estado brasileiro transfere renda a quem já tem mais renda. Robin Hood às avessas. Mas o governo não é o único vilão. “O limite da influência do Estado é a arrecadação de 34% do PIB”, diz Medeiros. Logo, para saber como as pessoas ficam ricas é preciso entender como funciona o mercado privado. É aí, bem ou mal, que ricos e pobres ainda produzem o grosso da riqueza do País.

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