domingo, 17 de junho de 2012


Edgar Mueller constrói um abismo no Paço das Artes

O artista alemão que corre o mundo pintando paisagens em 3D visita o Brasil pela primeira vez

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A pintura do artista alemão Edgar Mueller em sua primeira visita ao Brasil: rios de lava em plena USP (Foto: Divulgação)
Por Soraia Yoshida
Edgar Mueller está fumando seu cigarro e relaxando por alguns minutos, antes de encarar as últimas duas horas de trabalho pesado. Ele vai dar os toques finais na pintura que está criando no Paço das Artes, dentro da Cidade Universitária, e que poderá ser vista a partir das 11h do sábado. Quando finalizada, a plataforma de madeira coberta com tinta se transformará em um abismo e o artista alemão convidará os paulistanos a tirar uma foto em que parecem prestes a cair no buraco e se afogar na lava ou simplesmente caminham sobre o abismo.
“A melhor parte é sempre essa, quando as pessoas olham pela lente da câmera e percebem o que é aquela pintura”, diz ele. “Elas chegam e só veem as cores. O fato de que precisam olhar de novo e se demoram na observação para tentar perceber os detalhes é muito bom para qualquer artista”.
À primeira vista, olhando a pintura plana, só se enxergam riscos coloridos. Ao observar do ângulo certo, porém, a obra toma outra forma e revela um abismo, uma cascata, até um pássaro, dependendo do desenho que ele cria com ajuda do computador. As imagens, na verdade, estão mais na sua cabeça. Às vezes ele pinta quadros com as cenas que vai desenvolver na vida real, mas isso acontece mais raramente, afirma. “Eu só traço as linhas no chão a partir do ponto central, depois vou aplicando a tinta. Mas não tem um desenho por baixo de cada detalhe. Quando preciso conferir se está tudo saindo direito, eu olho pela lente da câmera”, diz para explicar como realiza sua “mágica”. É só no espaço da lente que se percebe a dimensão do trabalho.
Edgar Mueller com a máscara que usa para criar suas paisagens em 3D (Foto: Divulgação)
Artista de rua desde a adolescência, Mueller viu sãs criações ganharem o mundo via internet. Quando realiza um projeto, como a gigantesca paisagem que criou para a Cidade das Artes, no México, ela é reproduzida na rede. A notoriedade ajuda a trazer novas empreitadas, como essa bancada pelo Club Social para uma promoção da marca. A ligação com empresas não é algo que o incomoda. “Eu não acho que seja uma coisa ruim. Adoro trabalhar em projetos artísticos, mas quando há uma empresa envolvida, fica mais fácil fazer o meu trabalho”, diz. Embora ache importante ter um próximo projeto, Edgar Mueller prefere não pensar muito adiante. “Saber que tenho projetos agendados para daqui a um ano é uma coisa de que não gosto muito”, diz. “Adoro o momento em que estou pintando e quando vejo as pessoas interagindo com meu trabalho. É bom não ter de pensar muito na frente”.
Em sua primeira visita ao Brasil, Mueller praticamente não teve tempo de olhar a cidade. São Paulo, para ele, é um lugar enorme e vibrante. Mas fica feliz quando lhe digo que os brasileiros adoram tomar parte em projetos como esse, em que se tornam personagem da obra de arte. “Ah, que bom, espero que as pessoas curtam de verdade”, diz. É uma pena que ele não esteja pintando em algum ponto movimentado, como no centro da cidade ou na Avenida Paulista. “Eu gosto muito quando isso é possível, mas entendo que é algo que dá trabalho manter depois e pode atrapalhar o trânsito, não sei”, diz. Daqui ele volta para Becheln, um vilarejo alemão muito tranquilo. Mueller passa uma boa parte do tempo viajando, então conta com os vizinhos para tomar conta de sua casa. Só espera voltar e encontrar uma noite perfeita para abrir o teto de sua sala e colocar o telescópio para fora. “Hoje em dia se tem tanta informação, tantas imagens e vídeos na internet, na TV e nos jornais que as pessoas acabam não olhando para as pequenas coisas”, afirma. Em julho, porém, lá vai ele de volta a Londres para criar uma nova série Evolution. As estrelas vão ter que esperar um pouco mais.

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