domingo, 17 de junho de 2012


Jovens da periferia tocam com alunos da Juilliard School

Orquestra de Cordas Infanto-Juvenil projeto Guri se apresenta com o Quinteto de Cordas da Juilliard neste fim de semana em dois concertos gratuitos

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A violinista Emma Sutton, da Juilliard School, mostra alguns acordes para os alunos do Guri (Foto: Lufe Gomes/Época SP)
Por Marina Ribeiro
“Fala para ela não se esquecer de me adicionar no Facebook?”, pede um. Outra já emenda: “tira uma foto nossa com ela?”. Emma Sutton, 25 anos, aluna de mestrado da Juilliard School sorri, tenta entender o que acontece a sua volta e arranha algumas palavras em português. Ela é uma das cinco pessoas mais requisitadas pelos alunos da Orquestra de Cordas Infanto-Juvenil projeto Guri, após o ensaio conjunto do quinteto de cordas da conceituada escola norte-americana com os alunos brasileiros. O grupo se apresenta neste fim de semana em dois concertos gratuitos: no sábado (16/06), às 15h, no CEU Três Lagos, e no domingo (17/06), às 11h, no Teatro Tucarena.
O projeto Guri pretende gerar a inclusão sociocultural por meio do ensino musical. No estado, reúne 50 mil jovens de 6 a 19 anos e tem forte presença em áreas periféricas. A orquestra de cordas reúne 42 alunos que mais se destacaram neste segmento. Assim como os participantes dos outros oito grupos do Guri, eles recebem uniforme, bolsa alimentação e transporte.
Apesar de ser o terceiro ano da parceria, tamanho alvoroço não é de se espantar. Muitos dos ídolos dos guris estudaram na escola. Nina Simone, Miles Davis, Chick Corea, Yo-Yo Ma, Renee Fleming, James Levine, os roqueiros Jordan Rudess (da Dream Theater) e David Bryan (do Bon Jovi) são apenas alguns dos famosos ex-alunos da Juilliard School. Para o coordenador pedagógico Ricardo Appezzato, o fato de contar com estudantes com idades próximas a dos participantes no projeto é muito positivo. “Quando os nossos alunos veem alguém de 21 anos tocando muito bem o violino, eles pensam: ‘então é possível que eu consiga. Qual o caminho que você fez pra chegar até ali?’”
Além de Emma Sutton, que toca violino, estão no quinteto Doori Na, violinista que já participou do CD de Chick Corea, a violista Jessica Garand e o contrabaixista da Andrew Roitste. Eles são acompanhados pela professora orientadora Claire Bryant, que toca violoncelo. Claire é a única veterana, os outros quatro fazem sua primeira visita ao Brasil. Nenhum deles fala português. Ainda assim, a comunicação entre brasileiros e americanos flui. Parte por conta de duas tradutoras que sempre acompanham os grupos, parte por gestos, mímicas e o interesse comum. “Música é uma linguagem universal. Ainda que eu não saiba falar português, eles me entendem”, diz Emma, estudante de mestrado na Juilliard.
A Orquestra de Cordas Infanto-Juvenil do Guri e o Quinteto de Cordas da Juilliard tocam sem regência (Foto: Lufe Gomes/Época SP)
O estranhamento também é cultural. “Eu não sabia que eram divertidos. Eu imaginava que eles seriam mais americanos, mas são muito legais”, diz Caio Felipe Bezerra Vilela, de 12 anos. Ele se juntou ao Guri em 2010 e conta que a parceria é a realização de um sonho. Felipe participou do projeto no ano passado e afirma que o maior aprendizado foi a reconhecer a importância do conjunto. “Antes eu achava que era só eu tocar, mas aprendi a importância de trabalhar em grupo”, diz. A integração da orquestra é tão grande que, em certo ponto do ensaio, até mesmo a regente Aline Sardão é dispensada e o grupo toca sem condutor.
A violoncelista Michele Ferreira dos Santos, de 18 anos, também participou do programa em 2011 e afirma que  ganhou confiança desde o último encontro. “Antes eu tinha medo de tocar, agora não tenho mais vergonha”. Filipe Cavalcante, violinista de 18 anos, teve contato com os alunos da Juilliard pela primeira vez este ano, mas já conseguiu notar diferença nesse ponto. Nos ensaios de que fez parte, ele aprendeu técnicas para ficar mais calmo na hora de tocar.
A troca parece ser de mão dupla. Appezzato conta que os alunos de Juilliard interpelam os professores do projeto estupefatos: “Como vocês conseguem fazer as crianças tocarem tão bem dando aulas para seis ao mesmo tempo?”. Além da experiência pedagógica, Claire diz que a vivência a faz lembrar de sua opção musical. “Ser uma musicista profissional é difícil, temos tanta dificuldade para ganhar a vida, que de vez em quando nos esquecemos do porquê estamos fazendo isso. Ver o sorriso de uma criança experimentando pela primeira vez o instrumento me recorda do motivo pelo qual eu escolhi música”.
Emma afirma ainda que a música lhe deu um propósito na vida. “Talvez eu possa realmente ajudar a mudar o mundo, uma criança de cada vez, eu sei que pode parecer clichê, mas é como eu sinto”, diz. A animação é tamanha que ela planeja fazer aulas de português assim que retomar sua rotina na escola. “Eu queria estar aqui para encorajá-los o tempo todo, mas se aprender português, pelo menos poderia escrever para eles. Fez uma grande diferença quando as pessoas fizeram isso por mim, na minha vida, então eu quero fazer isso por outras crianças”, diz.
Claire Bryant com a seção dos cellos da orquestra (Foto: Lufe Gomes/Época SP)
A orientadora do quinteto, Claire Bryant, gostaria que nos Estados Unidos existissem projetos como o Guri, capazes de atingir boa parte da população. Lá, os programas de arte têm sido a primeira opção no corte de orçamento em meio à crise econômica. “Os cortes afetam principalmente uma população que precisa da inclusão por meio da arte”, afirma Claire.
O quinteto visitará várias unidades CEU da cidade, onde alunos iniciantes também terão a oportunidade de receber orientação da equipe da Juilliard School. “A nossa ideia é que desde o princípio as crianças já possam visualizar um objetivo”, afirma o coordenador pedagógico do Guri, Ricardo Appezzato.
Dia 16/06, sábado, às 15h. CEU Três Lagos. Estrada Barro Branco, s/nº, Grajaú, São Paulo. Entrada franca
Dia 17/06, domingo, às 11h. Teatro Tucarena. Rua Monte Alegre, 1024, Perdizes, São Paulo. Entrada franca

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